segunda-feira, 30 de março de 2009

Carta ao Fantastico - 29 de março de 2009

Carta ao Fantástico





Parece um pouco absurdo perder tempo escrevendo para um programa como o fantástico, já que deve –se partir do pressuposto que um programa de domingo a noite na rede globo tem grandes chances de (re) produzir a cultura machista em que vivemos, no entanto eu estava, como milhões de brasileiros, assistindo o programa quando começou uma reportagem intitulada “Será que ele está realmente interessado em você?”.



A reportagem foi programada com o propósito de “ensinar” a mulher a perceber quando o homem não esta a fim dela e ao invés de dizer isto para a mulher inventa uma desculpa esfarrapada qualquer e desaparece . Com este objetivo chamaram algumas mulheres e alguns homens para falarem do assunto. Aí começa o problema, a escolha foi por mulheres que foram apresentadas como quase desesperadas para casarem e homens apresentados como “pegadores” que vivem inventado desculpas para as mulheres pois não querem nada sério.

Nas perguntas e respostas do programa as mulheres ficaram numa posição em que perguntavam aos homens as “ dicas” para compreender se os homens em que elas estavam envolvidas estavam afim de algo sério com elas . E ao final do programa os homens dizem para as mulheres que elas são muito bonitas e que vão conseguir achar o homem certo que vão olhar para elas direito, e desta forma pressupõe-se que elas um dia vão conseguir casar .Bom, o programa além de não ajudar as mulheres em nada, consegue atrapalhar. Pois.


  • Reforça a imagem que as mulheres estão sempre desesperadas para prender um homem e casar, como se isto fosse a finalidade de suas vidas.

  • Coloca a mulher numa posição em que elas estão sempre subjugadas ao desejo do homem por elas. Como se elas estivessem prontas a casar com o primeiro homem que lhes concedesse este “favor”.

  • Não leva em conta a possibilidade que assim como os homens as mulheres podem também não estarem interessadas neles.

  • Além de tudo isto, um programa em que as mulheres têm que perguntar a homens “estranhos” se os próprios ficantes, companheiros, casos e etc, estão ou não afim delas, pressupõe que estas mulheres são completamente idiotas e que não conseguem perceber sozinhas sobre suas próprias vidas. Além do que, inverte a lógica, pois quem mente (no caso do programa os homens) esta numa posição superior e quem ouve a mentira fica numa posição de “idiota” que tem que ser ajudada por outros homens que também mentem . Sendo que se alguém tem que ficar numa posição de idiota deveria ser aquele que mente, e não quem acredita.

Enfim, nada disto é tão ruim quanto à própria idéia que fez com que este programa tivesse publico e por isto fosse ao ar, e esta idéia é a de que homens e mulheres fazem parte de desejos totalmente diferentes e programados. Na vida real, de pessoas reais, homens e mulheres mentem e são sinceros, se apaixonam e levam foras, a única diferença é que a mentira do homem é legitimada, aprovada e admirada por uma cultura que produz programas como estes. Lia Vainer Schucman

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