“Eu não sou racista, mas Deus
é!”
“Eu não sou racista, mas Deus
é!” foi a fala final de uma das entrevistadas para minha pesquisa de doutorado que teve como o intuito pesquisa
a branquitude paulistana . Após discorrer 3 horas sobre o que é ser branco e
sobre o lugar do negro na sociedade brasileira, Fernanda (nome fictício)
terminou a entrevista em tom irônico dizendo que apesar dela não ser racista
sabia que:
“ser preto não é uma vantagem...
Não é vantagem em lugar nenhum, é por isto que eu acho que Deus tem uma
cisma... Eu não sou racista, mas Deus é!”.
Assim, acaba a entrevista. Por seu impacto e desconforto esta frase revela muito do lugar do branco nas relações raciais brasileiras e, portanto, escolhi para representar algo forte sobre a branquitude.
Aqui, é importante
pensar que a frase de Fernanda já nos diz muito, pois ela assume, por oposição,
que ser branco é uma vantagem logo quando diz que ser negro não é. Logo depois,
exime-se de responsabilidade em ocupar um lugar de desconstrução nesta situação,
quando afirma, ironicamente, que Deus é quem é racista. Penso que a idéia de Deus,
aqui, não se refere a algo religioso, mas sim a duas proposições
características da branquitude: o racismo é do outro, e outro pode ser Deus,
ser o vizinho, a sociedade etc. Diz respeito, também, ao que é transcendental e,
por serem transcendentais, as desigualdades raciais construídas
sócio-historicamente acabam sendo naturalizadas como algo dado e intrínseco, por isto continuo pensando a importância de estudar os brancos com o intuito de desvelar o racismo,
pois estes, intencionalmente ou
não, têm um papel importante na manutenção e legitimação das desigualdades
raciais.
Um comentário:
Esta é a importância da pesquisa científica na Área da Pscicologia Social. Pois além de nos conhecermos precisamos também conhecer a sociedade da qual fazemos parte. Muita Força e Energia nesta trabalhosa atividade.
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