sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sobre identidades, preconceito e racismo !


Tem vezes que da vontade de desistir ! mas vamos a luta ! 

                 Sobre identidades, preconceito e racismo !


Nesta semana fui  fazer uma fala sobre identidades raciais no Brasil para o projeto no qual estou trabalhando. O projeto é lindo se trata  de saúde da população negra. E uma das coisas importantes do projeto é sensibilizar os profissionais da saúde  para o racismo institucional dentro do SUS.  Minha  fala  foi sobre formação e construção de identidades. E  principalmente como se formam as  identidades brancas e negras  no Brasil .  Falei  muito dos privilégios da branquitude e  da importância  da construção  de uma identidade negra positivada  através da cultura, da luta anti-racista e de diversas formas que os sujeitos negros possam se identificar e construir negritudes que tragam conforto, sentimento de pertencimento, ou seja saúde psíquica.  Após a fala, no auditório  uma pergunta  foi direcionada a mim e era o seguinte: 

Lia, o que é mais importante construir  uma identidade negra positivada ou sensibilizar a população para o Racismo?  Respondi que os dois eram necessários,  construir  uma identidade positivada era necessário para a saúde psíquica da população negra, e  sensibilizar sobre o racismo era necessário para a população brasileira como um todo e principalmente para os brancos.  Nesta resposta dei um exemplo sobre identidade judaica, que  é algo que estudei  no mestrado, e ainda faz parte da minha construção como sujeito.  Disse que na época da segunda  guerra haviam judeus que se identificavam  com a cultura judaica de diversas  formas : afetividade, religião, tradição, ancestralidade, cultura e etc... E haviam também os judeus que  nao se identificavam com nada, eram judeus sem judaísmo, eram judeus  pelo simples fato de ter ancestrais que um dia foram ligado a esta tradição e que por isto carregam sobrenome judeus.  Para os judeus que tinham tradição judaica a identidade era algo importante, positiva e que dava lugar no mundo para estas pessoas, para aqueles que apenas carregam o nome ser judeu representava um fardo , representava ser perseguido,  e era algo que estes tinham vontade de deixar de ser , mas nao poderiam, nao tinham escolha, seus sobrenome e sua historia e principalmente o olhar externo e o anti-semitismo os classificavam assim.

Dei o exemplo acima e voltei a falar da importância da identidade negra positivada, pois  para aqueles que nao tem esta positividade ser negro é sofrer racismo, é  ser aviltado em sua constituição pela sociedade racista em que vivemos hoje no Brasil,  e por isto  o exemplo dos judeus  fazia sentido para pensarmos isto.

Quando acabou a fala e o debate  uma das pessoas que trabalham comigo, e que também luta pelo fim do preconceito de nossa sociedade me disse  que eu  nao deveria  ter dado o exemplo dos judeus, pois  os judeus eram hoje a comunidade mais racista do Brasil, e que ela havia lido isto em uma reportagem, e que alem disto os judeus tinham tanto horror aos negros que nem empregadas domesticas negras eles tinham.  Perguntei para ela se os judeus são tão racistas  o que é que eu LIA estava fazendo lá ?   Ela me respondeu que eu era  DIFERENTE.  Neste mesmo segundo entendi que as vezes a lógica da luta anti-racista serve para uns e nao para outros.  Uma das características maiores do preconceito e do preconceituoso é quando encontra alguém do grupo de que se tem preconceito é retira-lo do grupo dizendo que este é diferente, pois assim a pessoa pode continuar tendo preconceito contra o grupo, e aquele “exemplar”  que se “difere”fica salvo, assim como todos os preconceitos contra o grupo.   O mais triste  para mim foi perceber que a pessoa  que me disse isto  luta contra os estereótipos e preconceitos ligado ao seu grupo de pertença, mas  nao entendeu que para um mundo melhor os estereótipos ligado a todos os grupos devem desaparecer!  Nao adianta nada lutar contra os estereótipos de um e permanecer com os outros !! Enfim, depois de sair chorando de raiva , fazer analise e pensar em desistir resolvi sublimar o acontecimento escrevendo por aqui. 

4 comentários:

Anônimo disse...

Bravo!!!! Como sempre! te amo! beijos

Anônimo disse...

É construir e não se incluir nessa construção. Provávelmente essa pessoa é capaz de falar de preconceitos e apontar situações racistas cotidianas mas não enxerga quando ela mesma comete atos preconceituosos. Acho que taí um problema da academia: o discurso pelo discurso.

Henrique Schucman disse...

É aí que se vê quando um conhecimento é bem aprendido ou não. É bom estar atento para esta possibilidade e perceber como estamos quanto a isto. Caso não corresponda a atitude com o conhecimento falta ainda um bom pedaço do caminho até lá.
Parabéns pelo artigo. Claro, na medida, objetivo, esclarecedor e num ótimo português. Adorei!

Adri Bosco disse...

A velocidade do pensamento é muito diferente da velocidade do sentir, e tudo isso está na ação. A discriminação é um dos temas mais inelaboráveis pro sujeito, e aí temos as racionalizações. Por que no limite é "por que comigo, por que com meu grupo?" e a única resposta que fica registrada no nível do sentir é "porque sim". E isso dói, ferida narcísica. Daí a necessidade de positivar a identidade (e os perigos de construir uma casa em cima de uma dor tão grande). Polarizações entre branco e negro, bem e mal, judeu e não judeu, gordo e magro são tentativas de lidar com este "porque sim" absurdo e tão presente. Pensar que eu sofro enquanto o outro não sofre é uma maneira de ter saida. A mais precária delas, mas saída. Enquanto que a verdadeira construção da alteridade é assumir que não há redenção, é entender o "porque sim", tentar evitar que aconteça de novo, procurar uma maneira de mitigar os sofrimentos de todos os lados, por que a sacanagem em si está em comparar sofrimentos. Enquanto comparamos sofrimentos (o meu é maior, o meu é maior) estamos apegados a eles e ninguém derruba os 175 mil muros da vergonha que existem no nossa cotidiano. Acho foda que você está construindo alteridade todo dia. Tu não veio a passeio mesmo, manezinha rsrs!