terça-feira, 26 de abril de 2011

Sobre o escracho, a denuncia o privado e o publico !


Sobre o escracho, a denuncia o privado e o publico !

 Nestes últimos dias o debate  sobre intolerância, vem a tona : acontecimento como o assassinato da menina  homossexual de 16 anos no mato grosso,  o seqüestro seguido de um tiro na perna, pelo ex marido em João pessoa,  de uma mulher que quis se separar. O caso do Bolsonaro. Porrada em homossexual na paulista, mulheres que aumentam o índice de AIDS alarmantemente por serem enganadas pelos maridos.   demonstram como  questões ditas de “opinião pessoal”  ou “ privadas” causam grandes mal estares  públicos e de seres humanos: E por isto escrevo para argumentar porque o escracho é sim um ato político e que merece apoio daqueles que lutam por um mundo melhor !

Maria sofre racismo e acha que é a  culpada, afinal é ela que nao tem cabelo lisos !Joana sofre  com os abusos machistas e acha que é porque é ela que não é a mulher perfeita, por isto seu “amor” lhe  ofende, lhe bate... Afinal se ela fosse “melhor”  nao estaria passando por isto !Fernando é expulso de casa, leva porrada na rua, nao  é mais recebido pela família, e  acha que ele fez algo de errado para nao ser mais aceito ! Errado ? gostar de outro homem ?Camila  tem a casa destruída pelo ex namorado e quando denuncia é acusada de alguém que quer vingança pessoal !! ou de tornar publico algo privado.  O cara chama preto de vagabundo e diz que é opinião pessoal !!  E que ninguém tem  nada a ver com isto !O ditado diz : em briga de marido e mulher ninguém mete a colher !!

E assim o racismo e o machismo se perpetuam  de forma tão natural  como uma arvore cresce no jardim !    Como disse Elie Wiesel, o carrasco mata sempre duas vezes. A segunda mata pelo silêncio.”  E aqui podemos pensar que o silencio pode também ser a negação, ou a desligitimaçao da dor alheia com justificativas do tipo : foi só uma piada, mas no fundo nao tenho nada contra negros. Ou ela apanhou, mas tava de mini –saia. O que eu fiz foi só uma briga de fim de relacionamento, mas quando  a gente ta bem eu não bato nela- O Clássico Mas Ele diz que me ama !

De verdade, cansei de explicar que o privado é sim político, e que assim como deputados corruptos devem ser denunciados, situações sexistas e racistas privadas também devem !   Em uma entrevista chamada para mudar a vida,  perguntaram a Agnes Heller o que ela achava do slogan o privado é político cunhado pelo movimento das mulheres nos anos 70. E ela respondeu :

“ a vida privada é uma instância social. Questão social significa questão publica, nao no sentido de que a vida privada do individuo deva ser uma questão publica (fim da privacidade), mas no sentido de que modelos da vida privada devem ser considerados objeto de interesse comum, o que significa que uma mudança  de tais modelos deve ser muito importante e não uma questão secundaria no processo de transformação geral. É motivo  de orgulho para o movimento feminista ter levantado esta questão, que pode ser também pensado para outras esferas do privado e político”  (Heller 82,pag 145)

Neste sentido, cabe ressaltar , que nenhuma mudança social pode realmente acontecer enquanto  o sexismo e o racismo prevalecerem, nem uma igualdade é realmente igual em um mundo em que mulheres são tratadas como objeto de prazer, capricho, trabalho, cuidado, ou proteção do homem. Mulheres são sujeitos e não objetos!  Por isto, o argumento que ouvi de muitos homens de esquerda sobre  “o escracho” que o que aconteceu foi briga de fim de relacionamento, ou o que acontece em relacionamentos nao devem virar coisas publicas deve ser radicalmente combatido! Deixar no privado é compactuar com o machismo, e devemos sempre lembrar que como diz Foucault a maior arma do poder é exatamente o poder de ocultar !! DENUNCIE !   Pois denunciar significa levar para o social, pois é exatamente lá no social que sujeitos se apropriam do machismo e do racismo e é lá que deve ser desconstruído !!

3 comentários:

Evandro O. Brito disse...

Penso que o "escracho", como um modo de expressão artística, consiste numa prática da liberdade (no sentido foucaultiano). Digo, enquanto atividade artística que expressa a estética da existência, o artista "escrachador" investe de corpo e alma contra as "tecnologia do eu" usada em relações sociais (que são sempre relações de poder). Nos casos descritos acima, e principalmente no caso do machismo, devemos tomar cuidado para não confundir machismo com homem, feminismo com mulher, etc. Se a questão é a relação social, que sempre é uma relação de poder, então o problema está no fato de que homens (mas também mulheres e outras prática sexuais) utilizam a tecnologia do machismo para dominação do outro (ou seja,suas regras e as vantagens que ela garante). Pois, dominação é o exercício do controle da ação do outro. O problema se agrava quando este controle resulta na mutilação do corpo do outro. Mas, voltando ao "escracho", como expressão da estética da existência (e não como mera tecnologia do "eu"), parece que ele pode enfraquecer o machismo e todos os outros "ismo", pois consegue enfraquecer estas tecnologias de dominação.

Vivian Lopes disse...

Vc é a melhor! te amo! Parabéns!

Henrique Schucman disse...

Apoiado! Atitudes abusivas devem ser colocadas em questão em todos os níveis. Não interessa a ninguém a permanência de escravidões de qualquer tipo. A tempos que se sabe, que o carrasco é tão escravo quanto o prisioneiro.