Quando era pequena, minha família, contava através de diferentes formas alguns pedaços da história da
segunda guerra, as vezes era com o silencio de minha avó materna, as vezes com
as fotografias de pessoas que se tornaram inexistentes pós guerra, as vezes por um prato típico de comida que havia
aprendido a fazer por causa da guerra e etc...
Quando
eu fui para a escola, nas aulas de história tive contato com outra história da
guerra, a história contada por aqueles que dela sabiam, tinham o conhecimento letrado e histórico porém não a memória.
Demorei
um pouco para juntar aquela história contada cheia de afetos pela família, com
aquela contada nas salas de aula. Contudo, quando juntei custei (e ainda custo)
a acreditar que havia sido verdade. Não passava no meu coração, sim, é algo que
passa pelo coração e não pela razão, a possibilidade que humanos feito nós, havíamos
deixado aquilo acontecer.
Fila de pessoas em marcha para morte ?
Campos de concentração ? Câmera de Gaz? Um simples sobrenome ou prática
religiosa era o motivo para alguém morrer de forma tão cruel ?
Não, aquilo não
era possível de ter acontecido !
Me perguntava: E ninguém fez nada ? E custava a acreditar que
havia sido real.
E porquê lembrei desta história
hoje ?
Abri mais uma vez a folha de São Paulo, e lá estava na
manchete :
Com tanta informação que temos hoje em dia, mesmo assim
pouco sabemos do que acontece aqui do lado.
Contudo uma coisa fica muito lúcida, a população
que morre é quase sempre a mesma: jovens, homens e negros na perifiria da
cidade. Sendo “policia”sendo “”bandido”” ou o que chamamos de “ cidadoes do bem”
estamos falando de uma mesma parcela da sociedade. Pois, provavelmente qualquer
sujeito de classe media, branco, e que mora nos bairros centrais sabe e têm
certeza que nesta guerra, que ocorre hoje na cidade de São Paulo, ele não é
alvo, não será atingindo em uma “chacina”.
Enfim, digo isto,
porque a verdade é que não estamos todos em uma guerra. A guerra tem uma
população alvo, população esta que o Estado Brasileiro e todos os seus braços vem
exterminando há mais de 500 anos de diferentes maneiras. Através da escravidão,
do racismo estrutural, da situação de vulnerabilidade em que o Estado relega `a
esta população, de uma ideologia que acredita que a vida de uns vale mais que
outras,
E ai, minha pergunta, aquela que eu fazia quando era pequena
volta com força total: E a sociedade não faz nada ? Como é que deixamos isto
acontecer ? Naquela época a desculpa é que “não tínhamos informação”. Hoje Temos. E o que mas me dói é, que, mesmo com informação não sabemos o que fazer - Ou não queremos?
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