sexta-feira, 4 de maio de 2012

“Eu não sou racista, mas Deus é!” ou... Mais aspectos sobre a branquitude.


“Eu não sou racista, mas Deus é!”

“Eu não sou racista, mas Deus é!” foi a fala final de uma das entrevistadas para  minha pesquisa de doutorado que teve como o intuito pesquisa a branquitude paulistana . Após discorrer 3 horas sobre o que é ser branco e sobre o lugar do negro na sociedade brasileira, Fernanda (nome fictício) terminou a entrevista em tom irônico dizendo que apesar dela não ser racista sabia que:
“ser preto não é uma vantagem... Não é vantagem em lugar nenhum, é por isto que eu acho que Deus tem uma cisma... Eu não sou racista, mas Deus é!”.
 Assim, acaba a entrevista. Por seu impacto e desconforto esta frase revela muito do lugar do branco nas relações raciais brasileiras e, portanto, escolhi para representar algo forte sobre a branquitude. 
 Aqui, é importante pensar que a frase de Fernanda já nos diz muito, pois ela assume, por oposição, que ser branco é uma vantagem logo quando diz que ser negro não é. Logo depois, exime-se de responsabilidade em ocupar um lugar de desconstrução nesta situação, quando afirma, ironicamente, que Deus é quem é racista. Penso que a idéia de Deus, aqui, não se refere a algo religioso, mas sim a duas proposições características da branquitude: o racismo é do outro, e outro pode ser Deus, ser o vizinho, a sociedade etc. Diz respeito, também, ao que é transcendental e, por serem transcendentais, as desigualdades raciais construídas sócio-historicamente acabam sendo naturalizadas como algo dado e intrínseco,  por isto continuo pensando a importância de estudar os brancos com o intuito de desvelar o racismo, pois estes,  intencionalmente ou não, têm um papel importante na manutenção e legitimação das desigualdades raciais.

O ex presidente Lula e a frase "A Crise é Culpa de Loiros de Olhos azuis"


Apesar dos ânimos exaltados, e da falta de compreensão de muitos  quando em 2009 o ex Presidente Lula  disse que a crise economica era  'Culpa  de loiros de olhos azuis', acho que esta frase poderia sim resumir bem o que significa branquitude.  
Antes dos loiros de olhos azuis propriamente saírem gritando é preciso esclarecer a diferença entre brancura da pele e branquitude. A branquitude  se refere a um lugar de poder, de vantagem sistêmica nas sociedades estruturadas pela dominação racial.  Este lugar é, na maioria das vezes, ocupado por sujeitos considerados brancos. No entanto, a auto-inclusão na categoria branco é uma questão controversa e pode diferir entre os sujeitos,  dependendo do lugar e do contexto histórico. Portanto, é importante perceber que brancura difere de branquitude. A brancura são as características  fenotípicas que se referem à cor da pele clara, traços finos e cabelos lisos de sujeitos que, na maioria dos casos, são europeus ou euro-descendentes.
Se pensarmos que  nos continentes que encostam o Atlântico, ou seja Europa, Americas e África os meios de produção e o acumulo de bens  materiais, o poder econômico e politico estão na mão dos  brancos podemos dizer que o ex presidente Lula esteve mais lúcido do que nunca !  Sim, a crise, o racismo, e as desapropriações culturais simbólicas e materiais é sim culpa de loiros de olhos azuis, no sentido do que isto significa e nao da cor da pele dos sujeitos.