segunda-feira, 30 de março de 2009

Fim de semana na avó

Passei este fim de semana na casa de minha avó, e em um destes momentos de diversão com as amigas no telefone comecei a rir de um comentário que esta fez. Ao desligar o telefone percebi que minha avó estava ao lado ouvindo a conversa. E assim que coloquei o telefone no gancho ela me disse : ---- Lia, se você tivesse metade da paciência que você tem com as mulheres com os homens dificilmente estaria solteira. E completou tal observação dizendo que não entendia como é que eu achava tanta graça nas mulheres, pois segundo a opinião dela estas são competitivas,desinteressantes e invejosas. Eu já havia observado o ódio aos judeus que minha avó (judia) apresentava no seu discurso, agora foi a vez de atacar as mulheres. Este é um caso impressionante de auto-ódio junto com identificação intensa ao agressor. Já que minha avó passou pela segunda guerra e perdeu grande parte da sua família, e, eu particularmente, nunca vi ela mencionar a culpa ao Estado Nazista Alemão, mas sim a sua condição judaica. Mas voltemos ao comentário sobre as mulheres... Ah as mulheres, de onde será que minha avó tirou a idéia que as mulheres são competitivas, desinteressantes e invejosas? Que eu saiba este é sim um discurso recorrente das mulheres e homens que acham que o centro das atenções de um mundo deve ser o homem gênero masculino, caso contrario a idéia de competição entre as mulheres não faria sentido. Ou então para que as mulheres estariam competindo se não fosse pela idéia de luta selvagem atrás de homens ? Não é esta mesma idéia que produz pensamentos e frases do tipo :" aquela mulher foi esperta, arranjou um jeito de prender tal cara" ou então que faz com que as mães falem para seus filhos " cuidado use camisinha! Tem um monte de mulher querendo engravidar de um cara como você" é esta mesma idéia que produz uma desvantagem total nas relações entre mulheres e homens. Um exemplo clássico disso é o ciúmes ... na maioria das vezes as mulheres tem ciúmes do desejo de seus namorados , maridos, casos e rolos por outras mulheres, enquanto os homens também tem ciúmes do desejos de outros homens por suas companheiras, ou seja os tanto os homens quanto as mulheres tem ciúmes do desejo dos homens ... Deixando mais uma vez claro que o centro das atenções das mulheres são os homens e dos homens, também os homens... Neste caso aonde foi parar o desejo da mulher ?Tudo bem, as mulheres já conquistaram espaço no mundo do mercado, e hoje poucas dependem financeiramente dos homens... Mas esta na hora de nós mulheres mudarmos o local simbólico da mulher em nossa sociedade. Pois enquanto as próprias mulheres acharem que os filhos homens valem mais que as filhas mulheres, e que os homens são mais interessantes que elas mesmas continuaremos legitimando o homem como centro de nossas vidas ... Aqui, faço um pedido para os homens e principalmente para as mulheres que como minha avó e outras tantas colocam o homem em uma posição de superioridade: Por favor, já esta na hora de nós mulheres pararmos de legitimar no discurso e na pratica o machismo de 2000 mil anos da sociedade ocidental !

Sobre Cotas - Samba, textos e resposta a Peter Fry.

Samba, textos e resposta a Peter Fry.

Logo depois de terminar este artigo, no sábado, dia 25 de novembro, estava voltando para minha casa em Santa Teresa, de carro, acompanhado por um amigo negro, quando vi no retrovisor um carro com um único farol muito alto. Tapei o espelho retrovisor para proteger os meus olhos. Após alguns minutos o tal carro acendeu luzes vermelhas que piscavam no seu teto. Polícia! Fui mais devagar para que ele pudesse me ultrapassar. Mas não ultrapassou. Parou ao meu lado e me forçou a parar. Saltaram de um Opala velho dois policiais armados com revólveres, que logo começaram a me xingar por não ter parado. Com arrogância e brutalidade exigiram nossos documentos e vistoriaram o carro. Minhas tentativas de exigir civilidade apenas aumentaram a agressividade deles. Quando nada ilegal acharam (tomei o cuidado de seguir seus passos caso quisessem “depositar” algo), relutantemente nos deram autorização para seguir viagem. Anotei o número do Opala. Os policiais então anotaram a placa do meu e ameaçaram me multar por ter recusado parar! Cheio de raiva, desci de novo para a cidade. No caminho, sugeri ao meu amigo que era um caso de racismo. Ele disse que não queria comentar isso, mas que era mesmo. Ele teria visto o Opala quando passamos por ele na subida. Certamente os policiais deduziram que um “branco” e um “negro” no mesmo carro só poderiam ser “bandidos” de um tipo ou outro. Fiquei arrasado por ter escrito um artigo apelando para a “realidade” da democracia racial! De volta à cidade, entramos num botequim, um botequim cheio de gente de todas as “aparências” possíveis, velhos e moços, mulheres e homens, de todas as cores possíveis. O ambiente de convivência bem humorada foi o mais perfeito antídoto à batida policial. Aos poucos fui relaxando. Um negro velho veio me pedir um real “para o ônibus”. Espontaneamente começou a me contar da sua vida de capoeirista com a navalha escondida entre os dedos do pé. Ato contínuo, se referiu a sua cor, dizendo que não tolera quem o “desfaz”. Partiu, então, para um longo discurso, sem pieguice, sobre a igualdade de nós todos perante Deus. Dei-me conta, então, de que meu artigo tinha algum sentido. Os dois eventos, a brutalidade da polícia racista e a civilidade da “mistureba” do botequim, aconteceram na mesma cidade com a diferença de alguns minutos entre um e outro. Mas é isso mesmo. O ideal da democracia racial e a brutalidade do racismo coexistem de tal forma que é a situação - umas são previsíveis, outras não - que determina qual vai prevalecer. Não tenho dúvidas de que os dois policiais, ambos “escuros,” jamais admitiriam qualquer racismo. Não duvido tampouco que bebam fraternalmente nos botequins da vida.”
Peter Fry em POST SCRIPTUM do artigo “A cinderela negra”.



Samba, textos e resposta a Peter Fry.

Ontem depois de ler todos os textos e pensar muito sobre eles achei que eu estava mergulhada demais no assunto das relações raciais, e já estava me sentindo um pouco monotemática nas conversas e pensamentos. Resolvi então, ir tomar uma cerveja com um amigo no Samba da Praça Roosvelt no centro da cidade. Quando eu cheguei lá a cena descrita por Peter Fry sobre o Botequim da Lapa se repetia: conviviam lá, pessoas de todas as aparências bebendo e cantando juntas ... Difícil é não se seduzir por esta linda cena e pensar que realmente estamos em um paraíso tropical de igualdade racial, no entanto basta os sentidos ficarem mais aguçados por mais de 10 segundos que pude ver e pensar um pouco mais além. A primeira cena que quebrava a teoria de Peter Fry aconteceu comigo. Encostei-me ao balcão para pedir uma cerveja e do meu lado estava um rapaz negro que veio me “xavecar”, ele encostou do meu lado e falou :
----Ahhh, se eu pudesse eu casava! Mas eu não posso, sou só um pretinho feio.
Eu que ainda estava com todos os textos em mente, quase quis sair de lá e ir correndo escrever um artigo resposta ao Peter Fry perguntando: porque será que todos tomam cerveja juntos, mas, no entanto, o rapaz negro acha que uma branca que freqüenta o mesmo lugar que ele esta em uma posição de superioridade a dele apenas por ser branca ? Será que este rapaz falaria a mesma coisa para uma mulher negra? Porque a frase dele já começa com uma negativa? Seria a branca algo inalcançável em uma relação tão hierárquica que conquista-la seria um premio?
Aqui, é importante ressaltar que um dos argumentos que Peter Fry desenvolve nos textos é que no Brasil há uma brasilianidade ligada a uma cultura nacional que advém de uma mistura de diversas culturas e cores, desta forma a classificação das camadas populares é feita por um sistema múltiplo e pelo continuum de cor. Neste sentido me restou uma duvida: Como que ele mesmo faz para nomear em seu relato sobre o episódio da policia e do botequim o seu amigo e o velho de “negros”? Como que o rapaz do bar ao meu lado sabia que ele é negro e eu branca? Não é a categoria raça que esta sendo atualizada nos dois casos? Não é também a categoria de raça que faz com que o rapaz pense ser impossível casar com a Branca? Peter Fry argumenta que o tipo múltiplo de classificação possibilita a “dês-racialização” da identidade individual. Neste caso, me pergunto, se mesmo que o amigo que estava sentado ao lado dele no carro se considerasse “moreno” e isto fizesse que ele não atribuísse a sua identidade pessoal o estigma da racialização isto serviria para que a policia não suspeitasse dele ?
Após esta primeira cena, eu mesma tentei me obrigar a parar de pensar neste assunto e ir me divertir, então encontrei um amigo meu moçambicano formado e com mestrado em economia pela USP, logo após nos cumprimentarmos ele disse : Lia, estou indo embora, vou voltar para Moçambique, aqui eu não consigo emprego, aceitam meu currículo, mas nunca passo depois da entrevista! Nesta hora pensei que precisamos dizer ao Peter Fry que além das cotas na universidade precisamos das cotas pós universitárias, em empresas, por exemplo!
Peter Fry, em sua posição contra as cotas, se opõe ao uso da categoria raça, segundo ele, quando o Estado institui raça como critério para a distribuição de direitos, a tendência é de fortalecer a crença em raças e, em conseqüência, o racismo. Pergunto a ele se quando este meu amigo moçambicano[1] não consegue emprego não é a categoria raça que esta sendo utilizada.
Para Fry, em seu argumento contra Guimarães diz que as identidades raciais que são valorizadas pelas ações afirmativas não existem ainda no Brasil (já que há um continuum de cor e a miscigenação é uma realidade que se oporia a estas identidades), e, neste sentido ele argumenta que, para que se possa utilizá-las elas teriam que ser primeiro construídas. Aqui também é possível perguntar: já que elas não existem, com que categoria as pessoas brancas discriminam as pessoas negras ? Ou seja, se o racismo existe no Brasil é exatamente porque a categoria raça esta não só construída como também se atualizando em todos os momentos.
E neste sentido é preciso concordar com Guimarães quando ele aponta em seu texto Democracia Racial que :
“O que continua em jogo, entretanto, é a distância entre discursos e práticas das relações raciais no Brasil, tal como Florestan e Bastide colocavam nos idos anos 1950. Ainda que, certamente, para as ciências sociais, o mito não possa ser pensado da maneira maniqueísta como Freyre e Florestan pensaram, transpondo-o diretamente para a política, permanecem os fatos das desigualdades entre brancos e negros no Brasil, apesar do modo como se classifiquem as pessoas. Mais que isto: as diferenças raciais se impõem à consciência individual e social, contra o conhecimento científico que nega as raças (são como bruxas que teimam em atemorizar, ou como o sol que, sem saber de Copérnico, continua a nascer e a se pôr?)”

Conversando com este amigo meu moçambicano, e ao mesmo tempo em que eu concluía que realmente é a categoria de raça que tem perpassado nos atos racistas dos brasileiros eu olho para o lado e vejo um rapaz branco com uma camiseta escrita: “Samba é cultura popular”. Eu que queria me desvencilhar dos textos lidos, lembrei logo do Renato Ortiz dizendo que o Soul serve melhor para exprimir a angustia e a opressão racial do que o samba, que se tornou nacional (como dizia a camiseta do rapaz), desta forma Ortiz tem razão quando conclui que: “O mito das três raças é neste sentido exemplar, ele não somente encobre os conflitos raciais como possibilita a todos se reconhecerem como nacionais”...
E é esta possibilidade de reconhecimento de todos como nacionais que Fry usa como defesa da não polarização entre negros e brancos, pois muitos dos bens culturais importantes como a feijoada, samba, capoeira que poderiam ser pensados como cultura negra são hoje considerados símbolos nacionais, e neste sentido que Fry argumenta que a democracia racial não é apenas um mito, pois, para ele é a ideologia da democracia racial que produz uma realidade a-racista e desta forma não segrega a população. Ou seja, a tese dele é que o mito da democracia racial produz de fato democracias e uma identidade nacional (como o caso da passeata que ele conclui que os entrevistados se sentiram num evento típico nacional-brasileiro). Desta forma se os negros não podem se articular por um eixo identitario cultural, qual categoria que poderia ser usada para a luta destes contra o racismo se não a própria raça?

Bibliografia
Ortiz, Renato. "Memória coletiva e sincretismo científico" e "Da raça à cultura" IN Cultura Brasileira & Identidade Nacional, Ed. Brasiliense, 1985.
Fry, Peter. 2005. A persistência da raça: ensaios antropológicos sobre o Brasil e a África austral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. Caps. 6 e 7
[1] O exemplo do Moçambicano pode ser facilmente combatido com o argumento da meritocracia, ou individualismo (com frases do tipo : vai ver que ele não consegue emprego porque não é bom) . Porém os dados de Haselbalg que controlam a categoria classe já mostram que os negros tem muito mais dificuldades no ascensão social que os brancos e também negros aparecem nas pesquisas[1] do IPEA como a população mais excluída no que diz respeito à participação no mercado, e todos os direitos como saúde, educação, acesso à justiça etc.





Teste de paternidade: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo : Nem Teste de D.N.A resolve ! O migué do Espírito Santo - março de 2008

Teste de paternidade: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo : Nem Teste de D.N.A resolve ! O migué do Espírito Santo

Por Lia Vainer Schucman e Rita Flores
Ontem, lá em casa, iniciamos uma daquelas conversas delirantes (absolutamente necessárias na vida de qualquer mortal), e que – vamos logo esclarecendo, sem o estímulo de qualquer droga a não ser nossa própria imaginação e capacidade de ir para onde as palavras podem nos levar...Lia e Rita sentadas discorrendo sobre os prazeres e sofrimentos do CORPO, enfim sobre o corpo que dança, o corpo que sente, o corpo que dói, o corpo que goza, o corpo faminto, a carne e todos seus prazeres, enfim o corpo que somos... Então, eis que surge a questão: Quem inventou essa história de que há qualquer coisa almaficada... ou espiritualizada ou crencificada ou iluminada que pode ir além da única coisa corporificada que temos : O corpo ! Neste momento nada mais nada menos que o tal do espírito Santo entra em questão!Toda a revolta começa quando pensamos que ele –O espírito Santo- teve o mérito da fecundação sobre o corpo da Maria.... Pô que sacanagem !! Todo o trabalho corpóreo de José ( não é tão fácil como pensamos – ereção é algo que exige um esforço real das conexões nervosas e sanguíneas de um sujeito, e após isto o esperma tem todo o mérito de ter sobrevivido e encontrado o óvulo em questão) Foi transformado em luz santa ! Porra! Além disso, ser corno já devia ser algo difícil naquela época, imagina então corno de um espírito que José nem conseguia enxergar para poder acertar as contas pela lei de talião da época, olho por olho dente por dente. Em bom português: umas boas porradas! Imagina então ter que engolir a Maria com aquela historinha mal contada que o chifre foi em nome de Deus, ou melhor de seu filho, aquela historinha que até hoje as vezes temos que engolir de alguns sujeitos : "Ai... amor , não foi por mal, foi em nome da salvação humana" ! Pois bem, o tema em questão é a lógica (não lógica) da tríade (que não é tríade) – do tão repetido "Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (AMÉM!). Começamos a "destrinchar" para entender o que se passa nessa historinha, no mínimo, mal contada, a respeito de um dos primeiros triângulos amorosos da história da Humanidade: Maria, José e um tal de Espírito Santo, um sujeitinho muito do folgado que acabou levando todos os méritos pelo trabalho "duro" – literalmente – feito pelo mortal e de carne e osso, o pai de "criação" de Jesus – o José. Mas voltemos ao início. Didaticamente, porque a história é complexa...Voltando ao Pai - tem o Deus. Tem o Filho – Jesus, tem o Espírito Santo. Na época, estava "todo mundo comentando" que Maria havia sido a escolhida por Deus para gerar seu filho, seu herdeiro (uma pergunta - herdeiro do que: do Amor? Do Céu? – "no entendo!"). Diziam que Deus, o criador, enviou o Espírito Santo para engravidar a Maria, que era casada com José, o marceneiro. Da união transcendental, tântrica, de "pura luz" de Maria com o Espírito Santo, nasceu o filho de José e de Maria, o Jesus (o filho é de José e de Maria ou é de Deus e de Maria?). Porém, não nos enganemos. Apesar da relação não-sexual, mas transcendental de Maria com o tal Espírito – que de Santo não tem nada porque – mancomunado com Deus, só fez enganar o trabalhador José – Maria viveu a gestação e o esta não foi poupada dos nove meses de gestação do filho divino Jesus. Pensamos que foi Deus quem inventou este negócio de infidelidade, já que incentivou a pobre da Maria a ceder às tentações do Espírito Santo – tudo em nome de Deus, é claro...então "os fins justificam os meios". José, relegado ao esquecimento, foi quem deu nome e educação para Jesus. Vale lembrar que Jesus tinha a mesma profissão que o pai (nem real, nem biológico, mas um pai de criação?!) – Jesus se identificava ao pai que conhecia desde criança. No entanto, "todo mundo" comentava na época que Jesus nunca mais foi o mesmo depois de descobrir a verdade de sua origem. Sua mãe Maria lhe contou que seu pai não era José, mas Deus. Só que como Deus não era um ser corpóreo, enviou um outro ser (que também não era) para ter com Maria um fruto de uma união divina – o Jesus. De "ser divino" à "puro ego", ao deduzir que foi criado à imagem e semelhança de Deus, acreditou!!! Se "Deus é Pai", porque inventou o Espírito Santo?

Ateísmo e o meu último assalto - 05 de junho de 2008

Ateísmo e o meu último assalto


É isto mesmo, desde que mudei para São Paulo estou quase naturalizando e normalizando a frase último Assalto, aqui é quase tão rotineiro que quando agente fala para algum paulistano que fomos assaltados todos começam alguma história sobre o ÚLTIMO assalto, ou seja não vale a pena contar de todos só o mais recente, que significa o último. (para contextualizar, estou morando há 2 meses e meio aqui e fui assaltada 3 vezes, por isto vou contar obviamente o último)

Enfim, estava eu chegando em casa, depois de uma aula até as 11 da noite, estacionei o carro e fui andando até a porta do prédio, mais ou menos 100 metros da onde estacionei, quando parei na frente do prédio o porteiro não me reconheceu (ele estava de férias quando me mudei para o prédio e ainda não havia guardado o meu semblante), além de não me reconhecer ele se levantou da cadeira para ir ao banheiro, neste minuto chega um assaltante com arma me joga no chão e leva minha bolsa (vale dizer que ele foi civilizado só queria , segundo ele, o dinheiro e o celular, e foi o que ele levou ). Depois de ser assaltada me levantei com alguns arranhões e um galo na cabeça e toquei a campanhia , até que enfim o porteiro fez alguma coisa : abriu a porta !

No dia seguinte minha colega que divide o apartamento comigo encontrou a sindica e contou a ela do assalto e perguntou se havia a possibilidade de nos dar uma chave do portão de fora, pois assim se o porteiro fosse ao banheiro ( pois é o mínimo de direito que alguém que trabalha a noite toda deve ter) nós poderíamos esperar entre o portão de fora e o portão principal de até ele chegar, a sindica respondeu que para nossa segurança não poderia dar a chave ( aqui cabe a pergunta , segurança de quem? ), e ainda disse que morava lá há 32 anos e nunca foi assaltada. Neste momento minha amiga perguntou: E o que agente faz quando o porteiro tiver que dar uma saidinha e agente tiver que entrar? (o prédio não tem garagem, logo não há outra forma de entrar) A sindica educadamente respondeu : Ah nessas horas temos que pedir a Deus para nos proteger ! A Alice neste momento perguntou a sindica qual o telefone de Deus para que agente possa pedir para ele nos proteja quando estivermos a 1 metro de casa o ladrão chegar e agente não conseguir entrar. Depois disso a Alice deu tchau a sindica e subiu para casa .
No outro dia meu pai foi me visitar no prédio e quando estávamos descendo encontramos com a sindica novamente . Neste momento ela se aproximou e me perguntou se eu tinha sido a pessoa assaltada, logo respondi que sim, e ai ela ao invés de chegar e me dizer que havia pensado sobre a chave veio reclamar da minha amiga, segue um pedaço do dialogo entre a sindica ( que estava acompanhada com a vice sindica) , eu e meu pai,

Sindica -Oi, foi você que foi assaltada ?
Lia- Sim
Sindica -Então, ontem sua amiga veio falar comigo sobre a chave e achei ela muito mal educada.
Henrique -Mas claro, ela foi te pedir algo que tinha direito, a chave de onde mora, e a senhora diz que ela deve Orar.
Sindica -Todos nos temos que orar, temos sim que orar para deus para nos proteger
Henrique -Você sabe porque em cima da catedral no vaticano tem um para raio ?
Sindica -Não sei e não quero saber !
Henrique -É porque mesmo que oremos há coisas reais que devemos fazer para nos proteger , caso fosse contrario o vaticano não teria um para raio no teto de suas capelas.
Sindica- Conclusão : o senhor é ATEU! (E neste momento ela olha para mim e me diz – tenho dó de você, sabe por que você foi assaltada? Porque você vem de uma criação ateia e não ora!)

Minha ultima frase olhando para o meu pai: Cuidado para não discutir com um idiota, alguém pode olhar de fora e não saber quem é o idiota.

Agora por favor, me respondam que tipo de pessoa é alguém que vc pede uma chave para se proteger e ela te manda orar para Deus ! ?E ainda mais uma pessoa encarregada de cuidar da segurança de vários moradores de um condomínio ! Que tipo de pessoa é alguém que chega a conclusão que você foi assaltada por que seu pai é Ateu e não porque o porteiro não abriu a porta e você não tem a chave ?

Carta ao Fantastico - 29 de março de 2009

Carta ao Fantástico





Parece um pouco absurdo perder tempo escrevendo para um programa como o fantástico, já que deve –se partir do pressuposto que um programa de domingo a noite na rede globo tem grandes chances de (re) produzir a cultura machista em que vivemos, no entanto eu estava, como milhões de brasileiros, assistindo o programa quando começou uma reportagem intitulada “Será que ele está realmente interessado em você?”.



A reportagem foi programada com o propósito de “ensinar” a mulher a perceber quando o homem não esta a fim dela e ao invés de dizer isto para a mulher inventa uma desculpa esfarrapada qualquer e desaparece . Com este objetivo chamaram algumas mulheres e alguns homens para falarem do assunto. Aí começa o problema, a escolha foi por mulheres que foram apresentadas como quase desesperadas para casarem e homens apresentados como “pegadores” que vivem inventado desculpas para as mulheres pois não querem nada sério.

Nas perguntas e respostas do programa as mulheres ficaram numa posição em que perguntavam aos homens as “ dicas” para compreender se os homens em que elas estavam envolvidas estavam afim de algo sério com elas . E ao final do programa os homens dizem para as mulheres que elas são muito bonitas e que vão conseguir achar o homem certo que vão olhar para elas direito, e desta forma pressupõe-se que elas um dia vão conseguir casar .Bom, o programa além de não ajudar as mulheres em nada, consegue atrapalhar. Pois.


  • Reforça a imagem que as mulheres estão sempre desesperadas para prender um homem e casar, como se isto fosse a finalidade de suas vidas.

  • Coloca a mulher numa posição em que elas estão sempre subjugadas ao desejo do homem por elas. Como se elas estivessem prontas a casar com o primeiro homem que lhes concedesse este “favor”.

  • Não leva em conta a possibilidade que assim como os homens as mulheres podem também não estarem interessadas neles.

  • Além de tudo isto, um programa em que as mulheres têm que perguntar a homens “estranhos” se os próprios ficantes, companheiros, casos e etc, estão ou não afim delas, pressupõe que estas mulheres são completamente idiotas e que não conseguem perceber sozinhas sobre suas próprias vidas. Além do que, inverte a lógica, pois quem mente (no caso do programa os homens) esta numa posição superior e quem ouve a mentira fica numa posição de “idiota” que tem que ser ajudada por outros homens que também mentem . Sendo que se alguém tem que ficar numa posição de idiota deveria ser aquele que mente, e não quem acredita.

Enfim, nada disto é tão ruim quanto à própria idéia que fez com que este programa tivesse publico e por isto fosse ao ar, e esta idéia é a de que homens e mulheres fazem parte de desejos totalmente diferentes e programados. Na vida real, de pessoas reais, homens e mulheres mentem e são sinceros, se apaixonam e levam foras, a única diferença é que a mentira do homem é legitimada, aprovada e admirada por uma cultura que produz programas como estes. Lia Vainer Schucman